Findam-se aqui minhas crônicas amazônicas. Antes de escrever minha derradeira, me pus a ler as mais antigas, desde o início. Fiquei tentado a alterar algumas coisas, mas refreei meu intento. Com isso, estaria traindo a essência do blog, cujos relatos foram escritos durante as tardes ociosas em que respirava os ares da terra de que falava.
A verdade é que, como minha meia dúzia de leitores deve ter notado, não há uma seqüência muito lógica para estas crônicas. Tampouco, possuem uma linha ou estilo únicos, variando em forma de reportagens, dissertações, crônicas e mesmo contos. Mas essa confusão toda talvez exprima justamente a multiplicidade dessa experiência e o espírito com que me lancei a ela, carregando na mesma mochila o impulso de aventura, a curiosidade, a disposição pro trabalho e aprendizado profissional, o propósito de juntar algum dinheiro, o sentido de engajamento social e o intuito de espairecer e simplesmente curtir.
Quando, por fim, me vi mais uma vez diante do exuberante tapete verde de selva, após decolar no avião e deixar para trás a cidade, fui assaltado pelas lembranças de tudo que vivi. Em parte, expressavam a nostalgia natural de quem deixa o convívio de um lugar e suas pessoas, sobretudo os amigos. Não tenho dúvidas de que minha experiência teria sido muito diferente, não fossem a cumplicidade e os laços de amizade que mantive. Ademais, de especial estava o fato de estar deixando para trás aquele recanto fronteiriço da Amazônia e todas as coisas que lhe são próprias: suas paisagens, suas gentes, seu rescaldo de culturas e línguas, seus aspectos pitorescos, seus prazeres, bem como sua face triste e nada romântica que conheci.
Um ano é suficiente para desconstruir mitos românticos e simplistas, mas não para fincar raízes profundas. Um ano é suficiente para romper com a visão estreita de turista e sentir a alma da gente, mas não capturá-la. Um ano é suficiente para aprender a suportar o calor úmido e os mosquitos, mas não se acostumar com eles. Um ano é, por fim, suficiente para se tomar ojeriza por esta terra “fim de mundo” ou aprender a estimá-la e acreditar nela, em que pesem as suas mazelas. Desta forma, ainda que tenha mergulhado em sua realidade, não poderia me livrar por inteiro da pecha de aventureiro. Mas, confesso, meus queridos: um ano foi tempo demasiado para um coração aventureiro. A Amazônia lhe arrebatou de vez.