Existe uma categoria de grávidas, as chamadas “grávidas da madrugada”, cujos rebentos têm especial predileção por chegar ao mundo na hora mais ingrata dos plantões, naturalmente com o intuito de impedir que o médico tenha seu merecido instante de repouso. A emergência do HGuT é farta desses casos.
Eis que em certa madrugada, durante um dos meus primeiros plantões, deu entrada uma gestante, logo encaminhada ao centro obstétrico pois já estava na iminência do parto. O mesmo ocorreu dentro da normalidade, até que o soldado auxiliar me chamou atenção para um detalhe por ele observado: "Tenente, ela ainda continua meio buchuda. Acho que tem coisa aí...". O aparelho sonar então denunciou os batimentos cardíacos de mais um bebê, desconhecido até da mãe, lá esperando a vez de dar as caras. É possível que aqui alguns de vocês tomem o fato como uma grata surpresa, contudo confesso que não foi este meu primeiro sentimento, considerando a chance de apresentação pélvica da criança (a saber, sentada), o que decerto traria dificuldades técnicas ao parto. Liguei correndo para a obstetra, na torcida para que o gêmeo se agüentasse um pouco mais no aconchego turbulento do ventre materno. Chegou ela no justo tempo, quando já se podia notar que a apresentação da criança era cefálica (cabeça para baixo), e assim o segundo parto transcorreu também sem sustos. Dois dias depois, a mãe obteve alta do hospital com seus pequeninos.
Outros dias mais se passaram até que eu soubesse que logo após a foto, àquele instante em que a mãe deixava o hospital, sucedeu um trágico incidente: um dos filhos lhe fora roubado. A história contada foi que a mesma aceitou a ajuda de uma senhora para levar a criança. A tal dona driblou a mãe e se escafedeu num moto-táxi rumo à cidade vizinha. O caso, então, saiu diariamente na imprensa do Amazonas e chegou mesmo ao Jornal Nacional. Tempos depois, disseram que a seqüestradora havia sido avistada pelo pai do menino na rua, perseguida e presa. O bebê foi assim recuperado, revelando uma extensa rede de tráfico de crianças. Bem se vê que não só de drogas, armas, muambas, mulheres e animais silvestres vive o comércio ilegal na região. Aqui, o cliente escolhe. Há tráfico pra todos os gostos.
3 comentários:
Grande Lessa! Legal que esteja conseguindo passar alguma coisa pros amigos que se identificam e se interessam por essas vivencias.
Abracao!
caraaaacaaaa...ainda bem que recuperaram a criança,graças a Deus...boa sorte na próxima missão!
abraço!
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